COTIDIANO
A gente se acostuma
com a falta do dinheiro
com o relógio e seu ponteiro
com feijão sem tempero
com metades ou inteiros
A gente se acostuma
sem flores na janela
chuva sem telhado
gesto sem cuidado
perdas e esperas
A gente se acostuma
com a dor que dá no calo
com desmandos ou regalos
com o tempo que é fato
com o real ou o abstrato
A gente se acostuma
com a falta de carinho
com pássaro sem ninho
com a vida em desalinho
com o silêncio ou o burburinho
A gente se acostuma
E se esmera neste ato
Sem pressentir que lentamente
Deixamos de ser vida
E nos tornamos um retrato
Elzinha Coelho
Lembrei-me remotamente de Marina Colasanti: "Eu sei, mas não devia". Entretanto, poesia é outro departamento... Amei!!!
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